sábado, 12 de maio de 2012


Ao Hilário, com carinho!


Nestes últimos dias tenho pensando em 2011. Tenho pensado em tudo que vivi em 365 dias de trabalho, atividades, encontros, momentos alegres e felizes, momentos sofridos e tristes. E a avaliação que tenho feito é muito positiva. Aliás, sempre é assim. Olhando para trás vejo mais coisas boas do que ruins. Sinto mais esperança em viver o futuro do que medo. O passado é mola propulsora para novos caminhos, projetos e rumos.
Em 2011 vivi alguns momentos que guardarei profundamente na memória e no coração. Entre eles estão a Ampliada Nacional da Pastoral da Juventude, realizada em janeiro, em Imperatriz, no Maranhão. Foi algo lindo de se ver e viver! Nunca tinha participado de uma ampliada da PJ antes. Ali, senti-me em casa, pude renovar meu compromisso com os/as jovens e aprendi, a partir da vivência litúrgica e da Palavra de Deus – estávamos no ciclo do Natal ainda – que Jesus não “furou” a fila, mas permaneceu nela, como um bom e verdadeiro ser humano, a fim de que toda justiça pudesse se cumprir. Fila dos pecadores, dos publicanos, dos que procuravam o Batista em busca de conversão (cf. Mt 3,13-17). Aliás, foi também no Maranhão que vivi outra experiência linda. Refiro-me ao 4º encontro estadual dos grupos de base em Coroatá, lugar de acolhida, de gente feliz, de uma igreja atuante e comprometida com a juventude. Lá, em Coroatá, vi uma cena simples, talvez insignificante, mas que me chamou a atenção. Depois percebi que era um costume deles, pois se repetiu várias vezes. Ao se aproximar do bispo um jovem lhe beijou a mão e o bispo beijou a mão do jovem. Como disse, algo simples, singelo, carinhoso. Mas para mim, sinal de uma igreja servidora e samaritana que acolhe e se deixa acolher.
Em 2011 participei da romaria dos mártires da caminhada, em Ribeirão Cascalheira, no Mato Grosso. O incentivo e a motivação dos amigos e amigas foram fundamentais para que pudesse ir. Ao entrar no Santuário dos Mártires cumpria a promessa que tinha feito a mim mesmo, em 1994, quando vi, pela primeira vez, o filme “Anel de Tucum”: eu ainda vou nesse lugar! Foi emocionante. Ouvir o “Pedro”, modo como é conhecido naquelas bandas dom Pedro Casaldáliga, narrar o martírio do padre João Bosco Penido Burnier foi uma experiência profundamente mística. Guardarei no coração suas palavras finais na missa de envio: “Podem nos roubar tudo, menos a fé e a esperança”.
Há tantas outras coisas que vivi em 2011 na paróquia onde trabalho, na família, com os amigos e amigas, com Deus. Se tivesse que relatar tudo gastaria páginas e mais páginas. Mas não é o caso. O importante é que sou grato a Deus pelo que me proporcionou ao longo desse ano.
Mas e o título desse texto, que relação possui com o que já escrevi até agora? Dizem que o certo é pensar o título por último, depois que o texto já está escrito. Pois bem. Aqui fiz justamente o contrário. Primeiro veio o título e depois o conteúdo. E por uma razão muito simples: queria escrever um texto para o padre Hilário Dick, SJ, pois ele, para mim, foi uma referência ao longo desse ano. Se tivesse que escolher alguém para homenagear, ser uma “personalidade do ano”, seria o Hilário Dick.
Quem acompanha esse “velho e bom” amigo da juventude sabe o que ele viveu e sofreu, especialmente por causa de sua saúde, ou melhor, a falta dela. Cirurgia, sessões de quimioterapia, dias e dias de recuperação. Foram tempos difíceis. Mas ele sobreviveu. E está “mais vivo do que nunca”. Fortificando-se mais e mais e fazendo uma das coisas que mais ama na vida: juventude. Sim, o Hilário “faz” juventude, ele “produz” juventude, acompanhando, assessorando, escrevendo e pesquisando. Acho que aquela frase de dom Helder cabe bem ao Hilário: “O segredo de ser sempre jovem – mesmo quando os anos passam – é ter uma causa a que dedicar a vida”. O Hilário nunca será uma unanimidade, nunca terá aprovação de todas as pessoas. Contudo, há uma coisa que não se pode negar: ele possui uma CAUSA a que se dedicar. E essa causa se chama JUVENTUDE. Isso mesmo. Para ele, juventude é causa e não coisa. Quando algo se torna causa, a gente doa a vida e, paradoxalmente, recebe-a novamente. Quando algo é apenas coisa, simplesmente a usamos em benefício próprio. É por isso que o Hilário se renova a cada dia.
Pensando nesse texto, em 2011, em 2012 e, principalmente, no Hilário, veio-me a cena da apresentação de Jesus no templo. As personagens eram as mesmas, com exceção do velho Simeão – que fora substituído pelo velho Hilário – e de mim, escondido atrás de uma das colunas do templo. Apesar de não ver muito, pois as colunas eram grandes, pude ouvir claramente o que o velho Hilário, ao receber o Menino nos braços, disse: “Agora, Senhor, deixai este vosso servo “viver” em paz. Sim, Senhor, deixai este vosso servo “viver” em paz. Agora que vi a salvação, contemplei vosso filho menino, deixai-me partir para a missão, deixai-me anunciar as vossas maravilhas, que vejo aqui com os meus próprios olhos. Deixai-me ir ao encontro de tantos jovens excluídos, mal amados, rejeitados e esquecidos, para que contemplem o brilho dos meus olhos e, assim, participem, dessa mesma esperança.” Após essa prece, como se já conhecessem o jeito de ser do velho Hilário, todos cantaram em uníssono, gregorianamente: “Amém, sim senhor, Seu Padre!”
Hilário querido, a sua vida é doação em favor dos pequenos, dos pobres e, principalmente, dos jovens. Ela nos inspira a viver nossos dias, com alegria, mel e poesia. Que todo o sofrimento pelo qual você passou esse ano, seja como um bom adubo, que fertiliza a terra, tornando-a capaz de produzir vida em abundância. Lembre-se do salmo 125,5: “Os que semeiam entre lágrimas, ceifarão com alegria”.